“As águas de abril começaram a cair cedo. Silenciosas, sorrateiras, vinham congratular o céu nublado que se formara também dentro de mim.
Caiam e paravam, iam e voltavam, entristeciam e encantavam. O cheiro da terra molhada subia pelas narinas como um sinal de vida, apesar da obvia morbidez que o acompanhava. Não me parecia um início, tampouco um fim. Parecia apenas que as coisas permaneceriam estáticas como estavam. Aquelas gotas de chuva quietas e doces pintavam meus olhos de um cinza triste. O cinza que tingia meus olhos quando nada mais era capaz de trazer um sorriso aos meus lábios, que se curvavam para baixo. Minha expressão era tão triste quanto o cinza daquele céu. E por mais incrível que possa parecer, eu me sentia bem.
Não estava completo, é claro! Nem feliz, mas não me sentia mal, apenar das circunstâncias. Eu amava a quietude dos dias de chuva. Amava a solidão que traziam, pois eu havia aprendido a viver nesse oceano incolor que a tristeza proporcionava. Sentia-me em casa. E estava segura, pois enquanto eu estivesse nos braços da solidão, nenhuma força terrestre seria capaz de ferir meu coração, pois ele mantinha-se distante de tudo. E isso era o bastante para sobreviver, por enquanto.”
∞
Raíssa Siqueira*
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